sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013


“O Mitra”

Levanto-me de um salto ao ouvir bater a porta… 12:00 – já é tão tarde… deixei-me adormecer… também pudera, estive no Banco de Portugal das 05:00 ás 09:00… Agora, o remédio é correr para o duche, tomar o verdadeiro “banho à gato” e, ala que se faz tarde…
Acabei de me fardar e luto com o “talabarte” e com o “coldre”… a seguir, outra luta – desta vez é com os fechos das botas, que se lembraram de encravar… não sei porquê mas, quanto mais atrasada estou, pior me corre a colocação dos atavios… Acabada a minha luta com os acessórios, apanho o cabelo numa trança meio torta (resultado das pressas), coloco o boné e dirijo-me para a cozinha no intuito de engolir um cafezito ás pressas, porque o tempo já não vai dar para mais, entro ás 12:45 – quando chegar ao “giro”, vou á Favorita comer qualquer coisita – penso, enquanto levo a chávena escaldante aos lábios. Com a pressa, esqueço-me que o líquido está a quase a ferver, dou um trago sôfrego, queimo-me, largo a chávena repentinamente e, claro, entorna-se o café … a cozinha fica em “estado de sítio”… mas, tenho sorte – não sujei a farda e quanto á cozinha, quando voltar tratarei do assunto. Corro para o quarto de banho, lavo os dentes á pressa e passo um batom nos lábios que já havia definido com lápis mais escuro. Olho-me novamente ao espelho, verifico mentalmente todos os pormenores… falta o assobio – está no bolso da gabardina… corro para o quarto e pego na malinha preta de tiracolo, onde tenho a carteira profissional, o bloco, a caneta, os lenços, a minha cigarreira de couro preto e mais uma meia dúzia de acessórios femininos – coisas de mala de mulher…
Saio de casa e após verificar se fechei a porta á chave (normalmente esqueço-me), corro em direção á paragem do autocarro… sei que se perder este, acabarei por chegar atrasada ao serviço e o Subchefe que hoje está de turno á “teia” não é propriamente sensível a atrasos não justificados… sei que se me atrasar, nem que seja um triste minutito, terei “sermão e missa cantada”…
Estou na formatura e o Subchefe distribui os “giros”… «360...» – vocifera, reparando que estou completamente “a leste” do que ele já dissera; «pronta!» – respondo timidamente. «Giro 3… Sabes onde é?» - questiona; «Sim, meu Subchefe…» – lá acabo por responder. Acabada a distribuição dos serviços, dá-nos a “chazada” do costume e… lá saímos para a rua. Na companhia da Ângela, a minha “compincha” de casa, desço a Rua de Camões e chego ao Largo do Campo Novo em amena cavaqueira sobre os meus desastres matinais aos quais ela não assistira, pois saíra de casa antes de eu acordar. Chegadas ao início da Rua de Santo André, despedimo-nos – ela fica por ali – eu continuo em direção á Rua dos Chãos, Rua do Carvalhal e Praça Conde de Agrolongo – o meu destino final. Estou completamente esfaimada e não entrei na “Favorita” – ao olhar lá para dentro, reparei que estava lá o Comissário António – resolvo entrar na Pastelaria Bastos, que fica mesmo ali á entrada da Praça, no intuito de dar que fazer aos dentes e acalmar o estômago. Dirijo-me ao balcão – não devo sentar-me porque estou fardada e de serviço – peço uma “frigideira” e um sumo. Enquanto aguardo o repasto, dou comigo a matutar nos porquês que me trouxeram para esta cidade… penso na desilusão dos meus familiares quando lhes dissera que jamais ficaria em Santarém, que dista apenas 13 kms da minha pequena vila, penso nas saudades imensas que tenho dos meus pais, do meu irmão, dos meus amigos… a distância que nos separa é tão grande… porque é que eu sou tão teimosa? Afinal, a culpa desta situação é apenas toda minha – fui eu que escolhi vir para Braga.
 Quando, quase no final do meu curso, me fora dado o impresso para escolher 3 Distritos, por ordem de preferência para ser colocada, eu escolhera Braga em 1.º lugar, Aveiro em 2.º e Funchal em 3.º - escusado será dizer que, ninguém percebeu os “porquês” das minhas escolhas – apenas eu e esse será um assunto a ficar “no segredo dos Deuses”, ou talvez não… quem sabe um dia, irei confessar a alguém os meus motivos… enfim… não posso queixar-me, fui eu que escolhi e a ser um erro, este será o “meu erro”.
A “frigideira” e o sumo chegam finalmente ao balcão e devoro tudo num ápice. Termino a minha parca refeição com um café bem forte, pago e saio para a rua.
Está uma daquelas tardes de início de Fevereiro, um “sol arrepiado” e um frio que me gela até á alma. O trânsito flui normalmente, sem problemas. Dou uma volta á praça em busca de algum veículo em transgressão – não se passa mesmo nada. Na praça de “Táxis” do lado norte, nem um carro. As poucas pessoas que se atreveram a sair á rua nesta tarde gélida passam por mim em passos apressados. Começo a arrepender-me de ter escolhido vir para esta cidade – não tem nada a ver comigo… as mentalidades retrógradas deste povo revoltam-me… Cheguei há pouco mais de um mês e já todos me conhecem, comentam acerca de mim e das novas “mulheres polícias”… sinto que não gostam de mim, apercebo-me que tecem comentários em surdina, á minha passagem… Por vezes, quando estou de sinaleira, normalmente no cruzamento da Avenida Central com a Avenida da Liberdade, Rua dos Chãos e dos Capelistas, chegam a juntarem-se em grupos a fiscalizarem todos os meus movimentos… sinto-me o verdadeiro “bicho-raro”…
Estou nesta espécie de torpor melancólico quando, repentinamente, ouço o barulho ensurdecedor de uma motorizada com o “escape livre”… o rapaz que a conduz não traz capacete, e, ao passar na zona onde me encontro, olha-me, faz uma careta e… inclinando o veículo todo para trás, passa por mim equilibrando-se apenas na roda traseira!
Dou por mim a pensar que deveria ter-lhe feito paragem, mas… seria quase impossível fazê-lo parar se este entendesse não o fazer… ainda não me tinha refeito da situação e já o “malandreco” aí vinha outra vez, após ter contornado toda a praça. Ah não...desta vez, vou fazer-lhe paragem! E se bem o pensei, melhor o fiz. Coloco o assobio na boca, levanto o braço em sinal de paragem e… para meu espanto, o transgressor imobiliza o veículo junto dos meus pés… quando olho bem para o “meliante”, deparo-me com os olhos mais lindos que algum dia vira, de um maravilhoso e límpido verde-esmeralda a adornarem um magnífico rosto bronzeado, emoldurado por belos cabelos loiros… o corpo atlético faz-me lembrar um “Deus da mitologia grega”… mas que belo exemplar acabo de pescar… – penso, ainda aturdida pela figura e pela situação…
«Boa tarde, senhor condutor… faculte-me os seus documentos e os do veículo, se faz favor…» – digo-lhe, após fazer uso do cumprimento habitual, uma continência.
«Boa tarde, senhora Guarda Marta.» – responde-me educadamente. «Ora aqui está o meu Bilhete de Identidade» – diz, passando-me para a mão o dito documento.
Pego no meu bloco e na minha caneta e começo a anotar os dados de identificação…
«Então… senhor Abel da Silva Oliveira… a sua morada é…?»
«Abel da Silva Oliveira Mitra… senhora Guarda…» – responde-me com um sorriso trocista, á espera da minha reação.
«Desculpe… mas… disse-me Abel da Silva Oliveira Mitra?» - indago confusa.
«Sim, Guarda Marta… Abel da Silva Oliveira Mitra.» – e volta a sorrir.
«Senhor Abel… aqui, no seu B.I. não está o sobrenome “Mitra”!» – exclamo, já ligeiramente alterada com a atitude de gozo do individuo.
«Pois se não está… deveria de estar… o meu nome é Abel da Silva Oliveira “Mitra” e vivo no Bairro da Misericórdia… É lá que vivem todos os “Mitras”…» – volta a insistir.
«Bem… e os documentos da motorizada?» – indago, dando por finda a questão do sobrenome.
«Esses não os tenho, senhora guarda… a mota não é minha… roubei-a.» –  é a resposta que obtenho.
Fico a pensar que o “artista” está a gozar comigo, mas… «Então, Sr. Abel… lamento mas vai ter que me acompanhar á Esquadra.» – declaro prontamente.
«Muito bem… vamos lá então.» – a pronta anuência deixa-me ainda mais confusa mas… agora já não há volta a dar…
E aí vamos nós… decidi-me pela Sede do Comando pois sei que lá obterei todas as informações necessárias relativamente ao indivíduo e ao veículo mais rapidamente. Entramos na Rua Justino Cruz, em direção ao Largo Carlos Amarante e daí á Rua dos Falcões, onde funciona o Comando… eu e o meu belo transgressor, com a dita motorizada á mão. Reparei que por onde passávamos, as cabeças se moviam em olhares curiosos, alguns com sorrisos trocistas, outros bastante surpreendidos, mas… achei que tal se devia á “famosa curiosidade” bracarense em relação a tudo que tinha a ver com “mulheres polícias”…
Eis que chegados ao Comando, o Sentinela olha-nos de alto a baixo, e, surpreendido indaga-me: «Ó Marta, o que é que aconteceu, heim?!» Conto-lhe que o indivíduo me dissera que roubara o veículo e dirijo-me á porta da Esquadra, ignorando a reação de surpresa divertida do meu colega…
Chegados á Esquadra, obtemos a mesma reação do graduado de teia e do colega de plantão… não percebo, mas também não me importo… acho que deve ser por eu ser mulher e maçarica que eles reagem assim á detenção que eu acabara de fazer… mas… eis que após fazer uso do telefone o Subchefe me manda aguardar pelo Comandante Operacional…
Já começo a ficar ansiosa e ligeiramente aborrecida com tanta burocracia quando vejo chegar o Comissário Martins – Comandante Operacional do CD Braga, que, ignorando-me completamente, se dirige ao “meliante”: «Então Abel, sempre ganhaste a aposta, heim?!»
Após uma longa conversa entre ambos e algumas frases divertidas que ouço dos meus colegas, fico a saber que acabara de deter o “Chefe” do “Gang dos Mitras”, que era o mais temível gang do Minho durante os anos oitenta, e que este havia apostado que seria preso por uma das novatas…

Jana – Junho de 2009

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012


Oitava Companhia EA 1984

 

28 de Maio de 1984:

Lembro-me:

- da confusão de raparigas de malas na mão…

Olhares curiosos… talvez de receio do futuro…

- da minha cara de espanto ao deparar-me com algumas raparigas dentro de um “uniforme esquisito”, coçado, gasto, desajustado, pouco feminino… tão feio que comentei com alguém a meu lado:”devem ser as empregadas da limpeza, não achas?!” – Eram apenas as colegas que haviam chegado antes de nós!

- de estar numa fila interminável à espera da minha vez para dar o meu nome e entregar os respectivos documentos para alistamento… tive tanto receio naquele momento que me coloquei quase no fim da fila…

Finalmente, após a entrega dos documentos, fui medida talvez pela enésima vez, pesada… e… foi-me atribuído um número mecanográfico (termo que para mim era “chinês”), um pelotão, uma companhia… e… indicaram-me qual a minha camarata…

Entrei no meio de uma confusão de malas, raparigas e barulho…

Ainda nem tinha tido tempo para reparar bem na imensidão de beliches meticulosamente alinhados e devidamente acompanhados com um minúsculo armário-cacifo onde era suposto caberem todos os nossos pertences, e já uma voz autoritária de fazia ouvir dando a ordem de nos deslocarmos à “intendência” para levantar o fardamento…

Nunca conseguirei esquecer o meu desapontamento quando me entregaram uma farda rigorosamente igual àquela que eu vira antes nas raparigas que pensara pertencerem ao pessoal da limpeza… e… pior: após vestir as calças que me foram distribuídas verifiquei que “sobravam pernas e faltava pano para as cobrir”… quando voltei atrás para trocar, recusaram e só quando o comandante da companhia viu a minha “triste figura” me foi autorizada a devida e justa troca!

 

De 28 de Maio a 13 de Junho de 1984:

Foram talvez as três semanas mais difíceis de todo o curso.

Lembro-me de ter pertencido à primeira equipa a entrar de faxina, por culpa de me ter colocado no fim da fila e ficar com o nº mecanográfico alto,  pois as últimas a serem alistadas eram as primeiras a alinhar no pior, o choque que apanhei ao constatar que éramos nós quem limpava tudo, auxiliava na cozinha e como nesse tempo de faxina não assistíamos ás aulas, ainda tínhamos que repor a matéria que não nos fora dada porque ninguém a repetia – tínhamos que aprender a desenrascarmo-nos!

Lembro-me do peixe que via a descongelar ao sol em cima de uma pedra, coberto de varegeiras… e da reacção do meu delicado e mimado estômago quando tentava meter alguma comida á boca… aquela messe de alistados era simplesmente repugnante! Escusado será dizer que o que me safava eram as bolachas que comprava nos poucos momentos livres na cantina (quando havia dinheiro para tal!) e garrafas de água – por sinal muitas !!!

Lembro-me das horas intermináveis na parada a aprender “ordem unida”, das horas passadas na carreira de tiro, nas horas de stress, das aulas dadas quase sem direito a tirar dúvidas, das provas físicas eliminatórias debaixo do sol escaldante do Ribatejo profundo… do receio de vir embora a qualquer momento se falhasse alguma destas provas… das inúmeras vezes em que fomos medidas com o único objectivo de eliminar as que haviam sido alistadas além daquelas que era suposto serem necessárias…

 

De 13 de Junho a 5 de Dezembro de 1984:

 

Santo Amaro de Oeiras – antiga Companhia Móvel

As instalações não tinham nada a ver com Torres Novas. Haviam sido remodeladas, estavam como novas.

Tínhamos quartos com 4 beliches, perfazendo um total de 8 camas. Tínhamos balneários novos e onde se podia ter alguma privacidade.

Só havia uma messe e portanto os oficiais iriam comer juntamente connosco, sendo assim, a comida era francamente melhor!

Lembro-me dos dois queridos colegas-cozinheiros, que pertenciam ao CI e faziam uma ementa principesca, comparativamente com aquela a que vínhamos habituadas de Torres.

Haviam apenas 4 salas de aula (uma para cada pelotão).

 

Lembro-me da nossa sala de convívio onde víamos televisão, grande parte das vezes acompanhadas pelo querido comissário Bacalhau Coelho, comandante da nossa Companhia – a 8ª .

Lembro-me da directa que algumas de nós fizeram para ver o Mamede a desistir da sua prova no Jogos olímpicos de Los Angeles – foi uma desilusão, pois ele era um sério candidato a uma medalha olímpica!

Lembro-me do posto de telefonista onde todos os dias ouvíamos uma voz melosa e impessoal, anunciar no altifalante: “ a instruenda nº 160 tem uma chamada telefónica”!

Estarás a ler isto Fatinha da Maia?!...ou então: “ a instruenda nº 150 tem uma chamada telefónica” – Lembras-te disto Ana Ribeirinho?

Lembro-me das noites de sonambolismo da Mané que falava comigo a dormir pensando estar a falar com o marido João.

Lembras-te Mané, quando chamavas “João…” e eu pensando ser comigo, te respondia e aproveitava para fazer perguntas indiscretas às quais respondias com a naturalidade com que se fala para a “cara-metade”?!

Lembro-me dos serões, das directas que fazíamos no sótão para estudar para os testes… Lembras-te Inês Meirinhos, quando íamos as duas de garrafa térmica numa mão e livros na outra, para o sótão para estudar a noite inteira? Na tua levavas café… na minha, ía o vinho da Madeira, do Porto ou o Abafado… e a “cusca” da sub-chefe Rosa: “ que meninas aplicadas… Vão estudar para o teste? Bebem assim tanto café?” – ah, se ela soubesse o que ia na minha garrafa térmica…

Por falar em sub-chefe Rosa, lembro-me dela, com a sua pronuncia típica do Porto, a ditar-nos participações… ( mais tarde vim a reencontra-la na divisão de trânsito da invicta, quando fui tirar o curso de trânsito); lembro-me da sub-chefe Emilia com o seu amor pela “sua” Idanha, e o chefe Canelas, comandante do meu pelotão (o 1º), alto, barrigudo e de óculos encarrapitados no nariz, a dar-nos “Direito Penal” e do quanto embirrava comigo porque eu tinha o condão de levantar sempre dúvidas para as quais ele não tinha resposta…

Lembro-me igualmente do querido chefe Nogal (penso que era comandante do 3º pelotão) e de quem quase toda a gente gostava… da guarda Fátima, loira, e com o seu jeito tão peculiar de bater continência com a cabeça inclinada para o lado e a sua voz melosa quando perguntava: “dá licença, meu chefe?”…

Do meu pelotão, vem-me à memoria: a Capitão – companheirona que ganhou a medalha de mérito; a Anabela – aquela mulata simpática e elegante; a Goretti que era filha de policias e era eximia contadora de anedotas; a Maria Manuel (Mané); a Ana Ribeirinho; a Isabel (que me chamava prima) e que passava o tempo livre a pentear-nos e a maquilhar-nos; a Milú… e umas outras quantas caras das quais não consigo lembrar-me dos nomes…

Por falar em Milú, não posso deixar de sorrir ao recordar os episódios cómicos ocorridos com ela e mais outras tantas do género, aquando da aprendizagem para andar de mota… aqueles momentos inesquecíveis passados na quinta da Escola Agrícola de Oeiras… a andar de bicicleta, e de repente deixávamos de ver a Milú… e… lá surgia ela do meio do milho, porque sabia andar tão bem de bicicleta que passava mais tempo a sair da estrada para o milho do que a andar propriamente… e, quando foi para aprender a andar de mota, a Milu saia do campo que outrora tivera milho e agora tinha restolho alto e duro, a coçar o rabiosque porque o havia espetado no restolho ao cair da mota!!!

Dos outros pelotões lembro-me: daquela colega madeirense que engravidou nas férias, penso que era a Neves; da Fátima, mais conhecida por Famalicão; da Isabel do Porto, mais conhecida por Bé, (mais tarde conheci a irmã dela, isnpectora do IDICT e super simpática); da Celeste de Fafe, com quem passei alguns fins-de-semana e através de quem conheci o meu cara-metade; da Inês Meirinhos de Bragança, grande amiga – lembras-te do fim-de-semana passado em Bragança e do regresso a Lisboa com o motorista do Dr.Telmo, na altura governador civil de quem havias sido secretária, a quem fomos esperar ao aeroporto vindo de uma viagem ás ilhas, e do maravilhoso jantar com ele num magnifico e luxuoso restaurante da linha?… era um bonitão, o Dr.Telmo!

Lembro-me dos dias passados na Quinta das Aguas Livres, em Belas, na carreira de tiro do GOE, e do quanto eu admirava a coragem e a loucura daqueles colegas… sentia-me a “anos luz” da sua coragem! Destes momentos, ficou-me um em particular, que hoje me faz rir a bandeiras despregadas mas na altura, aterrorizou toda a gente – a 1ª vez que disparamos com a G3, houve uma de nós que, não contava com o coice que a arma dá ao disparar, não fixou bem a arma, disparou, levou o coice e… caiu de costas com a arma na mão pronta a disparar de novo… toda a gente ficou lívida de pânico… imagine-se que, inadvertidamente carregava de novo no gatilho… a arma estava apontada para o meio de todos…

Lembro-me dos fins-de-semana loucos que passávamos quando juntávamos um grupinho para ficar na Escola. O objectivo era: Sábado de tarde – casino (gastávamos 500 escudos cada uma nas slots); Sábado á noite – pub Canoa (onde bebi os melhores cocktails da minha vida) e Domingo na praia ou a dar uma saltada ao Rossio, á Pastelaria Suiça onde me perdia com aquele maravilhoso bolo de natas com morangos…

Lembro-me das idas á praia após as aulas (íamos quando toda a gente estava a voltar para casa)…

Não posso deixar de sorrir ao recordar o sub-chefe Ezequiel, nosso preparador físico, elemento do CI, carrancudo e querendo parecer o que na realidade não era – mauzão!

Recordo principalmente aquela vez em que ele descobriu as bolhas que eu tinha nas mãos porque fora para as slots no casino e como estas eram velhotas, emperravam e encheram-me as mãos de bolhas, então, o ex.mo, para me castigar, obrigou-me a fazer flexões no meio da parada, á frente de todos e com as mãos na gravilha… dizia ele que era para as bolhas saírem…!!!

E aquela célebre queda que dei ao tentar fazer uma acrobacia na não menos célebre “casal 2”… era só para treinar as acrobacias para o espectáculo do compromisso de honra… Por falar nisto, lembro-me com muito orgulho, que conseguimos pela primeira vez, fazer a torre e a prancha humana em cima das motoretas (até ali só o haviam conseguido em motas pesadas), tendo na ocasião sido motivo de reportagem pelo jornal “Correio da Manhã”.

Lembro-me que a Isabel (minha prima), passou horas a maquilhar quase toda a Companhia para a ocasião… lembro-me também que quando inquirido a respeito de tal pelo jornalista, o nosso querido comissário, que era algarvio, respondeu: “ então porque na haviam as moças de se pintar? As mulheres-policias são acima de tudo mulheres!”

Por falar no querido comissário… lembro-me das vezes que literalmente, lhe cai em cima… isto acontecia em todas as vezes que tínhamos provas físicas! Lembram-se, queridas colegas, quando fazíamos o teste cooper (2.000 metros), eu corria qual gazela nos primeiros 1.500, andava em passo de corrida os 400 seguintes, e, os últimos 100 como se estivesse nas olimpíadas… no final, o meu corpo exausto, atirava-se para cima da 1º pessoa que encontrasse na linha da meta… invariavelmente, era em cima do comissário!!! O pior foi quando nas ultimas provas, para finalizar o curso, em vez do comissário, estava lá o chefe do Estado Maior e eu me atirei para cima dele, tipo “saco de batatas rolante”… foi de cair para o lado a rir… devo dizer que, apesar da vergonha do momento, não foi de todo desagradável, porque o sr. era cá “um pão”…!

Lembro-me de uma noticia na altura triste e bombástica que ouvi dentro do nosso autocarro, quando o motorista ligou o rádio: “morreu António Variações. O cantor faleceu de SIDA!”

Foi o primeiro português, figura pública a assumir que era homossexual e portador do maldito vírus que tanta gente boa, linda e talentosa tem levado! Não posso deixar de sorrir ao recordar a primeira e única vez que o vi em público na rua… foi numa das minhas incursões ao Rossio: deparei-me com a “figurinha” de conjunto de calças tipo balão e túnica de fundo cor-de-rosa, com porquinhos castanhos… sobre a túnica um cinturão castanho tipo tropa, na cabeça a inconfundível fita tipo faixa, e, ao pescoço inúmeros colares tipo correntes bem como as pulseiras nos pulsos. Nos pés, umas chinelas gregas… e aquela barba ruiva, inconfundível… e inimaginável o “boneco”! Lembro da sonora e bem disposta gargalhada que não consegui evitar porque o momento e a irreverência própria da minha idade assim o permitia… confesso que se fosse hoje, talvez não reagisse daquela forma porque a vida e a idade já me ensinaram a aceitar e respeitar as diferenças…

No momento em que ouvi aquela noticia na rádio, senti que Portugal ficava irremediavelmente mais pobre… porque quer se goste ou não, António Variações era um génio e um animal de palco que fazia falta ao nosso triste País e, um artista daqueles surgirá apenas um em cada século, na melhor das hipóteses…

 

5 de Dezembro de 1984:

Eis finalmente chegado o grande dia: o do Compromisso de Honra!

Em Torres Novas, iríamos jurar bandeira mais de mil novos agentes.

E lá fui eu, no meio do maralhal… Toda janota, dentro da minha “farda de gala”, azul, cordões e luvas brancas, meias horrorosamente cinzentas, sapatos cinco estrelas (lindos: as traineiras!), que me apertavam dolorosamente os meus desgraçados pés, cabelo impecavelmente penteado debaixo do boné… e por companhia inseparável a minha “amada” G3!

Foi uma manhã extenuante aquela! Mas tínhamos que estar impecáveis, seguras e bem comportadas… afinal, tínhamos em cima os olhos dos nossos chefes e outros superiores hierárquicos bem como dos nossos queridos familiares que orgulhosamente tentavam prescrutar no meio daquela multidão, cada uma de nós!

A tarde foi bem mais porreira… a nossa Companhia desfilou enquanto cantávamos o Hino da 8ª Companhia (a nossa), fizemos demonstração de um pelotão auto-comandado e finalmente, as malucas das acrobatas da “casal 2”, onde me incluo, actuaram! Não houve quedas, nem falhas… choveram apenas muitos aplausos. Foi lindo!

E finalmente, recebi a minha “guia de marcha” para me apresentar ao serviço na semana seguinte em… Braga!!! A minha mãe só acreditou para onde eu ía, quando lhe mostrei tal documento! Sabia que podia ficar em qualquer distrito que quisesse pois a minha nota de fim de curso assim o permitia (14,60 valores – de 0 a 20, não é mau), mas havia jurado a mim mesma que jamais pediria colocação onde me conhecessem pois considerava que isso só iria dificultar-me a vida.

Recordo finalmente, a sensação de dever cumprido… o ter conseguido finalizar o meu curso! Jamais esquecerei todas as dificuldades, o sofrimento, o stress por que passei…no entanto, também nunca esquecerei os bons momentos, as amizades, o companheirismo e a noção nova de “família” que aprendi durante o meu curso.

Por todos os motivos e mais alguns, só posso mesmo dizer que: “ A Escola de 1984 foi Única”!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

E eis-nos chegados àquele período do ano em que é só deprimir… mais uma carta que nunca irás poder lêr…

Meu Querido
Mais uma vez, aqui estou, a escrever para ti, minha estrelinha maior.
Nem sei por onde começar… falar-te das minhas vitórias, da concretização dos sonhos, dos reencontros há tanto tempo desejados…
Das derrotas e desilusões recuso-me a falar, pois nem merecem comentários…
Quanto ás m...
inhas vitórias, tu fazes parte de todas elas, tens sido a minha estrelinha maior, a quem as tenho dedicado inteiramente, que me tem ajudado a subir a pulso cada degrau e a ultrapassar todas as barreiras, mesmo aquelas que pareciam intransponíveis.
Quanto aos reencontros de há tanto tempo, só tu sabes, meu confidente e meu cúmplice… para quê referi-los se tu já os conheces, não é?
Tenho tantas saudades tuas… ás vezes a angústia é tão grande que o meu coração fica pequenino, apertado e triste… fazes-me tanta falta…
Tenho saudades da nossa cumplicidade de crianças, da traquinice própria da infância…
Tenho saudades das nossas saídas de adolescentes á conquista do mundo com a curiosidade própria da juventude…
Tenho saudades de te ouvir dizer-me “deixa lá mana… um dia irás conseguir…”
Tenho saudades de chamar-te o “meu Guel” e de te ouvir chamar-me a “tua Jana”…
Tenho uma saudade doentia de tudo em ti… teus olhos negros, belos e tristes, o teu sorriso melancólico e meigo…
Faz tanto tempo que partiste sem te despedires… pensei que a mágoa no meu peito passasse com o correr do tempo, mas… a cada amanhecer e a cada pôr-do-sol, sinto cada vez mais esta tristeza que habita o meu ser e se recusa a deixar-me…
Ás vezes, vivo a ilusão de que, se eu fechar os meus olhos com muita força, conseguirei ver-te e abraçar-te de novo, mas… quando os abro, constato que tudo não passou afinal de uma pura ilusão… apenas encontro aquele lugar vazio, sem ti…
Quando chega o meu aniversário, a cada chamada recebida, tenho a secreta esperança de que sejas tu… “Parabéns Mana, estás a ficar velhota”…
Perdi-te… perdi-te para sempre e da pior maneira… tão rápido quanto vieste ao mundo, deixaste que a vida te fugisse… e eu… ainda hoje sinto aquela mágoa sem fim, uma culpa enorme, porque… não me foi permitido fazer nada para impedir-te de partires…
Ah, meu querido… quem me dera ter o poder de transformar o tempo e os acontecimentos…

segunda-feira, 9 de julho de 2012

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA CÂMARA DE FELGUEIRAS

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA CÂMARA DE FELGUEIRAS:
Ex.mo Sr. Presidente da Câmara Municipal


De Felgueiras



Felgueiras, 08 de Julho de 2012



ASSUNTO: COLÓNIA DE GATOS ABANDONADOS



Ex.mo Sr. Presidente

Em referência ao assunto em epígrafe, sou a expor a V.ª Ex.ª, o seguinte:

- Sou moradora na Av.ª Dr. José de Castro Leal Faria, Edifício Impacto, nesta cidade;

- Desde há cerca de 10 anos que alimento uma colónia de gatos que se encontrava nos terrenos adjacentes à Casa das Torres, propriedade que a Edilidade entretanto adquiriu;

- Ao longo destes anos, e como é do conhecimento de todos os felgueirenses, nunca os órgãos Autárquicos locais se dignaram a resolver o problema do abandono de animais que grassa na nossa Cidade;

- Em virtude da ineficácia autárquica local, eu e algumas vizinhas tomámos a nosso cargo e expensas monetárias, a alimentação e acolhimento dos gatos que entretanto as pessoas foram abandonando no local;

- Já não é a primeira vez que investimos dinheiro na compra de abrigos de madeira para os ditos animais;

- Como V.ª Ex.ª já teve oportunidade de observar in loco, aquando das presenças na Casa das Artes, os referidos animais sempre estiveram naquele local propriedade da Câmara;

- Igualmente como V.ª Ex.ª já deve ter tomado conhecimento, com o desenrolar das obras, os abrigos têm sido várias vezes deslocados;

- Atualmente, os operários da obra receberam ordens, não sabemos de quem, para colocarem os ditos abrigos em frente ao Edifício Sucesso 2000;

- Como o Senhor Presidente deverá calcular, a ninguém agradará ter debaixo da sua varanda, os abrigos e os respetivos animais, sem contar com a fraca imagem que a Edilidade dá da cidade a quem nos visita;

- Esta mudança está a causar graves problemas de vizinhança, pois quem se está a sentir prejudicado com a localização dos abrigos referidos, já destruiu os mesmos por várias vezes e inclusivamente, espera que nós vamos alimentar os animais e seguidamente, retira-lhes a comida, deitando-a nos contentores de resíduos que se encontram mais abaixo daquele local;

- Como cidadã, venho por este meio invocar a Legislação de proteção animal, que creio ser do conhecimento de V.ª Ex.ª, e solicitar que a Câmara Municipal tome as providências que urgem ser tomadas, uma vez que, como já referi, a atual situação está a criar graves problemas de vizinhança e caso venham a acontecer fatos mais graves do que aqueles que já ocorreram, será essa edilidade a responsável, uma vez que até ao presente nada fez para solucionar o problema.

- Creio que não seria nada difícil nem oneroso para a Câmara, se deslocassem os abrigos para o terreno anexo às obras, e o qual não está a ser intervencionado, deixando acesso a quem queira proceder à alimentação dos animais, pois tal não iria por certo incomodar quem quer que fosse e não daria a péssima imagem que está a dar.

- Como eleitora considero que a política de proteção animal nesta cidade, puramente não existe, pois segundo a Lei em vigor, compete às autarquias a posse, edificação e manutenção de canis ou gatis, contudo, dada a inexistência de tais infraestruturas locais, desde já me voluntario para continuar a custear a alimentação dos animais em causa.

Resta-me ainda manifestar a minha mais profunda tristeza pelo péssimo exemplo que Felgueiras dá aos seus jovens, uma vez que, neste concelho, abandonar ou maltratar um animal é o mais comum no seu dia-a-dia… Lamento, mas jamais será essa a educação que darei á minha filha, a quem tento transmitir os valores que aprendi dos meus pais.

Dos fatos agora expostos darei o devido conhecimento a outras autoridades, e deles farei pública exposição, a fim de que alguém faça alguma coisa.

Sem outro assunto, aguardo a melhor atenção de V.ª Ex.ª para o assunto exposto, me subscrevo, atentamente,

Maria João Marinho

quinta-feira, 22 de julho de 2010

"De Volta à realidade" por Tiago Alves (judoca, 18anos, falecido com cancro) escrito em 11 de Julho 2010

Olá Pessoal.Ainda me sinto um pouco "abananado" da operação. Mas mesmo assim, sinto uma enorme necessidade de vos falar.Infelizmente a operação não correu como esperado, não me tiraram o animal de dentro de mim =/ quando fui para a operação, estava com enorme entusiasmo. Mas quando acordei e o medico me disse que não tinha conseguido remover o cancro, fiquei tão, mas tão desfeito que pensei no pior.Tou agora a recuperar da cirurgia e os dias não têm sido nada fáceis com as dores, a revolta de não me terem tirado o cancro, os drenes a cicatriz e a "moca" da anestesia.Falei mais tarde com o Dr. Nuno Abecacis (foto), que foi ele que me operou, e ele mostrou-se bastante triste com a minha situação, uma coisa que poderia ficar controlada, não, tem que se ir por outro processo.Ele explicou me que à volta do estômago e o peritoneu (que é uma membrana que envolve a zona do abdómen) estavam todos apanhados com o cancro e que para me tirarem, tinham de remover o intestino delgado, à qual assim não conseguiria viver.Então o que se vai fazer é depois das recuperação da cirurgia, vou fazer entre 4 a 5 sessões de quimioterapia e logo a seguir se o cancro diminuir de dimensão, voltam outra vez à cirurgia para me remover o estômago. E a seguir mais 2 ou 3 sessões de quimioterapia.Enfim, podia ser tudo mais fácil, mas continuo com a mesma força apesar de agora estar mais debilitado :SDr. Nuno Abecassis para quem não sabe é um dos, senão o melhor cirurgião de oncologia do país e eu sinto muita confiança nele por isso é que me deixa mais tranquilo :)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

IPPONforLIFE: Palavra para difinir o CANCRO

Tiago Alves - judoca português, medalha de bronze no campeonato da Europa - morreu hoje, vítima de cancro!
acabo de te conhecer sem te ter conhecido... passei por aqui após tomar conhecimento da tua inesperada e rápida partida...
não posso deixar de me solidarizar com a dôr dos teus... sou mãe de uma miúda da tua idade e não consigo sequer conceber a idéia de a perder... uma mãe nunca está preparada para a dôr da perda de um filho...
não encontro palavras para te homenagear... apenas consigo manifestar o meu profundo pesar e dizer que após a leitura das palavras que deixaste neste teu cantinho, fico muito orgulhosa de um dia teres representado o nosso querido País ao mais alto nível e apesar do enorme sacrifício que fizeste pois já te encontravas muito doente, conseguiste mostrar ao mundo que afinal Portugal não é uma província de Espanha... Bem Hajas Campeão!!! Descansa em Paz!!! O meu Muito Obrigada por teres sido um menino tão corajoso!!!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Esperamos por Ti...

Em Janeiro completei o meu sexto aniversário.
Recebi um bonito par de sapatos dos meus pais e os meus padrinhos ofereceram-me um vestido muito bonito, mas a prenda que eu mais ansiava, só chegaria lá mais para Maio...
A barriga da minha mãe começou lentamente a crescer... A partir de Abril, estava já tão grande que tinha que ser eu ou o meu pai a lavar-lhe os pés...
A partir desse momento, tiveram que explicar-me que a barriga da minha mãe crescia porque era o bébé que estava lá dentro, que estava a crescer também...
A meio do mês de Maio, os meus pais decidiram que seria melhor a mãe ir para Lisboa, para casa da tia Ildita, pois queriam que o bébé nascesse na mesma maternidade onde eu nascera também.
Fui para alcoentre para casa da avó Rosária, para que o meu pai pudesse ir trabalhar sem se estar a preocupar comigo. Claro que fiquei toda contente, porque eu adorava estar com a avó, o avó Leal, a tia Hortense, o tio e a prima Ana que eu adorava...
Os primeiros dias decorreram com toda a normalidade... brincadeiras com a Ana, idas á fazenda e ás compras juntamente com a avó e a cavalo na burra "mimosa", serões bem animados com o tio Amilcar a tocar gaita de beiços...
Mas, com o passar dos dias, comecei a ficar inquieta... as saudades apertavam o meu coração... faltavam-me o meu pai e a minha mãe!
Assim acabou o mês de Maio e começou Junho. Vieram os dias cada vez maiores e mais quentes e as nossas brincadeiras incluiam agora também os banhos no tanque da tia lavar a roupa, o que era por demais divertido...
Mas, a minha cabeça só pensava num assunto: " quando é que nasce a minha irmã? quando é que a mãe volta para casa???
Quando parecia que o meu coraçãozito já não iria aguentar mais com as saudades, o meu pai apareceu em Alcoentre com a novidade: o meu irmão nascera!!!
Vieste ao mundo num dia quente de fim de Primavera, um dia muito importante para o nosso País... Nasceste no dia 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas... Nasceste assim, num dia que é Feriado Nacional.
A alegria do pai contagiou-nos a todos, e só quando ele disse o nome que pensava dar-te é que toda a gente calou o seu entusiasmo... o pai decidira dar-te o nome de "Portugal António"!!!
Apesar do descontentamento geral, lá foi explicando o porquê de "tal" nome... "Portugal" por causa de teres nascido no Dia de Portugal... "António" porque é esse o seu nome...
Sou demasiado pequena para perceber o porquê da desilusão geral em relação ao nome escolhido, mas ouço comentar que, a mãe provavelmente, não irá concordar com "este" nome...
Quanto a mim, passada que estava a desilusão inicial de seres um rapaz e não uma rapariga com a qual contava, o que eu mais ansiava era poder conhecer-te finalmente.
Terminado o momento das querelas relativamente ao teu nome, o pai decide levar-me de volta para casa. Quer levar-me no dia seguinte a Lisboa para ver a mãe e para te conhecer.
E lá fui eu com o pai no dia seguinte, de camioneta, para Lisboa...
As minhas mãozitas minúsculas levam um pequenino ramo de flores para a mãe e o meu coração carrega a curiosidade e a ansiedade que tenho para te conhecer...
Chegados que somos á maternidade, o pai é informado que eu não posso entrar em virtude da minha tenra idade. É a desilusão... Choro e barafusto o quanto posso...
É então que o pai tem uma idéia brilhante: encosta-me a si de lado e ordena-me que, ao passar pelo segurança me cole literalmente a ele. Pode ser que assim, não seja notada e consiga passar...
Passo no primeiro segurança e ficamos radiantes, mas... o segundo segurança estava mais atento que o colega e barra-me a entrada!!!
O pai é obrigado a deixar-me na entrada, sózinha e a chorar desalmadamente...
Passado algum tempo, o primeiro segurança que estava a morrer de pena de mim, vem chamar-me para me levar á parte exterior do Hospital, onde poderia ver a janela onde está a minha mãe... Dou pulos de alegria quando vejo a dita janela abrir-se e lá do alto, vejo a cabeça da minha mãe que se debruça sobre o parapeito da janela, me manda beijos com a mão e me acena...
Quando fazemos a viagem até casa da tia Ildita já vou mais resignada... o pai diz-me que a mãe irá sair da maternidade no dia seguinte...